Por volta dos anos 80, era tempo de reforma, com o fim da
ditadura o reinicio da democracia. Mas eu não vim aqui falar de política, vim
falar da história de Renato.
Renato na época era uma criança comum, vivendo com os pais,
Helena e Rogério, quem sempre respeitava e dava todo seu carinho. Frequentava a
escola, tinha vários amigos e adorava ficar com eles, onde desfrutava da maior
dádiva que existe para a criança, a diversão. Ele era uma criança feliz,
espontânea e que sonhava em ser um médico como seu pai.
Mas havia uma brecha em todo esse conto de fadas. Seu pai,
Rogério, estava sempre ocupado com sua profissão, sendo um médico clínico geral,
até mesmo em domingos e feriados, e acabava se esquecendo de sua família.
Renato, que já não era tão ingênuo com seus 10 anos, começou a se questionar se
o seu pai realmente o amava. Para o menino foi muito frustrante em sua festa de
aniversário de 11 anos, reunido com todos seus amigos e familiares, ver seu pai
ter que sair para trabalhar. O tempo passou, o garoto engoliu a mágoa e continuou
sua vida rotineira, quando alguns dias depois da festa, Helena e Rogério são
chamados com urgência no colégio.
Renato estava pálido, suando frio e reclamava de dores no
peito, deixando seus pais extremamente preocupados. Seguiram para o hospital, o
garoto passou por uma série de exames e testes e, depois de certo tempo,
descobriram a causa de tudo, Renato sofria de uma disfunção cardíaca.
Ao saber disso, Helena caiu em prantos e Rogério ficou sem
reação, vendo seu único filho ali, em um leito de hospital, sofrendo como um
condenado e sobrevivendo apenas de fé e esperança. O pai no mesmo instante
pegou seu jaleco, e disse que ele próprio iria fazer o tratamento de seu filho.
Passada uma semana, e Renato só piorava, e Rogério já não
sabia mais o que fazer. O menino foi examinado por um especialista e mais uma
bomba caiu nas mãos de Helena e Rogério, a única forma de Renato sobreviver era
com um transplante, e este teria que ser feito em no máximo 24 horas, ou se não
o único caminho que Renato poderia seguir era o da morte. Foi nessa hora em que
o desespero consumiu a sala, evaporando as últimas esperanças dos pais de
salvar, seu filho.
Helena perdeu os sentidos, e Rogério se pôs a chorar, um
choro que doía desde o corpo até a alma. O menino dormia tranquilo nem
imaginando o que se passava naquele quarto. Foi quando repentinamente Rogério
se recompôs, respirou fundo, beijou sua esposa e seu filho e disse apenas uma
palavra:
- Adeus.
Então saiu da sala seguido de seu assistente. Helena pensou
em segui-lo, mas algo dentro dela disse para permanecer no quarto. Então se pôs
a rezar, com toda sua fé e coração, para que algum milagre acontecesse. Meia
hora depois surge apenas o assistente, e informa a mãe:
- Encontramos um coração para seu filho.
Helena ficou parada, sem esboçar reação; então levantou,
beijou a testa do filho e sussurrou que agora tudo iria ficar bem. Levaram Renato para a sala de cirurgia.
Depois de quatro horas de espera, surge o cirurgião e
notifica que a cirurgia foi um sucesso e que o garoto passava bem. A mãe se
acalmara, agradeceu o médico e foi atrás de seu marido para dar a notícia. No
meio do corredor encontrou seu assistente, e lhe perguntou:
- Onde meu marido se encontra? O rapaz abaixou a cabeça e
com muita dificuldade falou.
- Seu marido não está mais entre nós. Era ele o doador do
coração. Mais uma vez Helena caiu em prantos, mas no fundo estava feliz, com a
prova de amor do marido.
Passado alguns meses, Renato já estava cem por cento. Ele e
sua mãe não tiveram mais nenhum problema, e agora ele sabe o quanto era grande
o amor do seu pai por ele.
Hoje Renato é um cardiologista, não só por ter se apaixonado
pela profissão, mas também para lembrar o que um pai é capaz de fazer por seu
filho.
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